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SETEMBRO AMARELO E A HUMANIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Atualizado: 30 de set. de 2020

O mês de setembro é o mês de prevenção ao suicídio. Ter um mês definido para simbolizar a conscientização para esse tema já nos mostra a gravidade e a extensão do problema na vida de todos nós. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo, o que é um dado alarmante.

O mundo organizacional não fica de fora desse cenário, já que a depressão é apresentada pela própria OMS como uma das principais causas de absenteísmo. E isso para não falarmos em presenteísmo, que é o fato de uma pessoa estar presente no ambiente de trabalho mas sem condições de produzir com efetividade.

E qual a responsabilidade das organizações nesse contexto? O que elas precisam fazer para ajudar, acolher e apoiar colaboradores que passam por momentos de depressão, cuidando para que esse quadro não chegue ao extremo de um suicídio?

A própria OMS já orienta alguns cuidados fundamentais e não necessito listá-los aqui. São de domínio público. Eles ajudam? Com certeza!! São suficientes? Creio fortemente que não. Por quê? Porque são respostas técnicas.

Onde quer que busquemos saber sobre como lidar com questões emocionais no ambiente de trabalho, as soluções são muito mais técnicas do que adaptativas. Só que questões que envolvem o emocional do ser humano são questões adaptativas e não serão solucionadas no mundo das respostas técnicas. Adaptativa é toda questão que, para ser solucionada, depende de uma mudança de valores, hábitos e formas de trabalhar, o que significa dizer que é necessário aprender esses novos valores, esses novos hábitos e essa nova forma de trabalhar.

Então o que uma organização precisa mesmo fazer para ajudar, acolher e apoiar colaboradores que passam por momentos de depressão é aprender de ser humano e acolher que, enquanto não lidarmos com isso de frente, estaremos atuando no plano do paliativo, sem atacar a raiz da questão.

Na nossa cultura o trabalho ocupa muito do tempo de nossa vida. São, tradicionalmente, pelo menos oito horas por dia, mais o tempo dedicado ao ir e vir do trabalho e ao horário de almoço, usualmente realizado junto com colegas, ou seja, uma extensão do trabalho. Isso em si já se configura uma grande motivação para que cuidemos para que nossos ambientes de trabalho sejam saudáveis e nos gerem satisfação e gratificação. E é preciso ter clareza de que, ao falarmos do tempo que passamos no ambiente de trabalho, estamos falando de tempo de vida!

Trazendo especificamente para o momento presente, some-se a isso as dificuldades e adaptações impostas pela pandemia, a insegurança gerada pela ameaça que ela significa e o amplificador de emoções na qual essa nova realidade se traduz.

Um ambiente de trabalho negativo pode ter graves consequências: problemas de saúde física e mental, comprometimento na vida familiar, uso abusivo de algum tipo de droga, faltas, perda de produtividade, depressões e até mesmo suicídios.

Mas como cuidar para que esse ambiente seja saudável? Sob o ponto de vista do trabalho que desenvolvemos na Sistema Humano Integral (SHI), digo a vocês que o caminho é o da elevação da qualidade das relações. Explico melhor: somos seres relacionais e emocionais, embora na escola tenhamos escutado que “o ser humano é um ser racional”. Claro que temos racionalidade, que é, inclusive, o que nos permite estarmos conversando aqui agora. Mas enxergar o ser humano sob o prisma de sua racionalidade é o mais curto caminho para o fracasso se queremos compreendê-lo de verdade. E para criar um ambiente saudável para pessoas é preciso saber sobre pessoas.

Ambientes tóxicos onde o bullying e o assédio psicológico são frequentes fazem parte de muitas das nossas organizações e, ainda pior, são considerados naturais para esse ambiente. Só que isso não é nada natural! Quem disse que precisamos competir e olhar para o outro como um adversário no ambiente de trabalho? Quem disse que tem que ser duro e sofrido? Parece que, explicitamente, ninguém nos disse isso, mas certamente cada um que nos lê agora sabe do que estamos falando. Então é porque isso existe, embora seja um tabu tocar no tema.

Mas precisamos tocar. É fundamental falar de nossas dores porque é não falar delas que nos leva ao estado depressivo. Então chegamos ao ponto fundamental onde podemos afirmar: o caminho é conversar! Simples assim, Sônia? Sim, simples assim. Simples de falar, não tão simples de implementar. Mas plenamente possível e essa é a boa notícia!! E se afirmo isso com tanta força é porque temos na SHI inúmeros casos de sucesso implementados em organizações onde desenvolvemos equipes e líderes para atuarem de forma mais madura e colaborativa.

Talvez você esteja pensando agora: como o caminho pode ser conversar se, na verdade, todos nós já conversamos? Afinal fazemos isso o tempo todo! E eu respondo: fazemos não, porque nunca fomos ensinados a conversar. Apenas nos ensinaram a falar e não nos deram clareza de nosso principal caminho para as boas relações que é o caminho da escuta. E somente isso já daria um curso!

Nossas organizações não se encontram preparadas para lidar com questões emocionais; questões humanas não são levadas em consideração. Ora, mas eu assinalava agora há pouco que somos seres emocionais. Então isso equivale a dizer que as organizações não estão preparadas para lidar com pessoas? Exatamente!!! Bingo! Mas vamos de notícia boa de novo? Elas podem aprender! Porque o que é mesmo uma organização senão pessoas se relacionando? Parece tão óbvio, não? E pessoas são seres aprendizes. Então, se um dia aprendemos a nos defender, a desenvolver relações superficiais, a fazer de conta que não levamos nossa vida pessoal para o trabalho (como se isso fosse possível), a acreditar que um ambiente tóxico é “normal”, podemos também aprender que o mais inteligente é atuarmos na direção da construção de um ambiente saudável, integrador e que dê conta da dimensão humana.

Organizações podem escolher aprender e o conhecimento de como construir um ambiente saudável está disponível hoje: conhecer como funciona um ser humano, nossas necessidades básicas emocionais, saber como atuamos, por que atuamos da maneira como atuamos, quais são nossas buscas e o que mais nos impede de mudar.

Então, o que as organizações precisam fazer é buscar esse conhecimento, aprender dele e implementar. O resultado é que a energia que antes era gasta com os medos, inseguranças e com a raiva gerada por relações imaturas e sem conhecimento do que é um ser humano, passam a ser utilizadas na produção de um trabalho focado, gerador de resultado, incluindo aí a satisfação de cada um.

Precisamos de atitudes e ambientes saudáveis, construídos com consciência, vontade e colaboração. Como humanos, temos todos os recursos pra isso!

SÔNIA BRAGA

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